A Prefeitura de Diadema, na Grande São Paulo, comprou por R$ 365 mil um drone que lança bombas de gás lacrimogêneo para ser usado pela Guarda Civil Metropolitana (GCM) na repressão de bailes funks.
A compra foi feita sem licitação e gerou críticas da oposição.
Na cidade, o combate aos “pancadões”, como são chamadas essas festas que varam as madrugadas nas periferias, virou política municipal da atual gestão, que espalhou outdoors falando em “tolerância zero aos pancadões”.
A aquisição do drone da empresa Condor S/A Indústria Química consta do site da Transparência da Prefeitura de Diadema, no valor total de R$ 365.313,60 (R$ 345 mil do aparelho e R$ 20,3 mil das bombas).
O aparelho tem autonomia de voo de 15 minutos e capacidade de transportar até 24 bombas de gás lacrimogênio em um único voo. A GCM também comprou 48 bombas de gás no modelo usado pela máquina.
A prefeitura afirma que a compra do drone faz parte de uma política mais ampla de segurança pública e argumenta que houve dispensa de licitação porque o equipamento tem uma tecnologia que é fornecida por apenas uma empresa no Brasil. (Leia mais abaixo.)
Em 2023, o g1 já tinha mostrado como funciona o drone ao visitar uma feira de segurança na capital paulista. (Veja o vídeo abaixo.)

Feira de Segurança em SP apresenta novidades de combate à criminalidade
Vereadores adversários do prefeito Taka Yamauchi (MDB), no entanto, afirmam que a administração municipal adquiriu o equipamento sem fazer pesquisa de mercado ou levar em conta as prioridades da cidade, além de desconsiderar o tumulto que o equipamento por causar em grandes aglomerações.
O atual prefeito adotou o combate aos bailes funks como única política de Segurança Pública na cidade. Ele não dialoga com os jovens da periferia, com as comunidades e não oferece alternativa para esse grupo se manifestar culturalmente.
— Patrícia Ferreira, vereadora do PT, líder da oposição na Câmara Municipal de Diadema e ex-vice-prefeita na gestão anterior
Na avaliação dela, “esse tipo de equipamento pode causar tumulto e corre-corre, semelhante ao que aconteceu em Paraisópolis, além de ser uma forma de criminalizar o lazer popular”.
O “Massacre de Paraisópolis”, como ficou conhecido, aconteceu em 2019, quando nove jovens que participavam de um baile funk morreram durante uma ação policial da PM.
Eles foram encurralados em um beco da comunidade e morreram por asfixia e politraumatismo, após uma dispersão trágica com uso de bombas de gás na comunidade. Ao menos 13 policiais militares são alvo de uma ação na justiça por responsabilização pelos crimes.
Para a vereadora, a compra do drone “é um absurdo”.
“Nossa cidade é uma periférica, com inúmeras prioridades, com uma periferia enorme e que não pode se dar ao luxo de gastar tanto dinheiro com um equipamento que é, sobretudo, desumano e perigoso para conter esse tipo de multidão, formada por adolescentes e jovens que não estão ali praticando crimes”.
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Outdoor espalhado pelas ruas de Diadema informando o programa de ‘tolerância zero’ da prefeitura contra os bailes funks na cidade. — Foto: Divulgação/PMD