Por Núcleo Aparecida Jerônimo (Jardim Miriam) – Consulta Popular
Os movimentos sociais e os partidos políticos do campo progressista precisam assumir com mais ousadia a responsabilidade de mobilizar a população na luta por uma vida digna para todas as pessoas. A defesa da justiça social, do fim das desigualdades e da proteção das populações mais vulneráveis exige ações concretas que vão além de discursos. É urgente articular estratégias de conscientização e organização popular que enfrentem as estruturas que perpetuam a violência e a exclusão. Se não assumirmos coletivamente essa missão, perderemos cada vez mais terreno na batalha contra as forças que destroem vidas e direitos.
É urgente articular estratégias de conscientização e organização popular que enfrentem as estruturas que perpetuam a violência e a exclusão (Núcleo Aparecida Jerônimo (Jardim Miriam) – Consulta Popular)
Na noite de sexta-feira, 10 de janeiro de 2025, o Assentamento Olga Benario, em Tremembé/SP, sofreu um ataque violento. Homens armados invadiram a comunidade por volta das 23 horas, resultando em três mortes e cinco feridos, incluindo crianças e idosos. Este triste acontecimento mostra o aumento da violência no campo brasileiro.
Conflitos por terra são comuns na história do Brasil e muitas vezes levam à violência contra trabalhadoras e trabalhadores rurais, e comunidades assentadas. Dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT) mostram que, nos últimos anos, esses conflitos têm aumentado. Em 2019, por exemplo, foram registrados 1.833 conflitos no campo, afetando cerca de 859 mil pessoas (CPT, Relatório de Conflitos no Campo, 2019).
Nas periferias de São Paulo, a violência também é alarmante. A maioria das vítimas de homicídios são jovens negros, o que reflete desigualdades sociais profundas. Em 2021, o Brasil registrou 45.503 homicídios, com 77% das vítimas sendo pessoas negras (Atlas da Violência, 2023).
As mortes causadas por policiais nas periferias de São Paulo têm crescido de forma alarmante. Entre janeiro e agosto de 2024, 441 pessoas foram mortas pela Polícia Militar do Estado de São Paulo, um aumento de 78% em comparação ao mesmo período do ano anterior. Dessas vítimas, 83% eram pessoas negras (G1, Dados da Polícia Militar de SP, 2024).
Em 2022, foram registrados 46.409 homicídios no país, com uma taxa de 21,7 por 100 mil habitantes. Além disso, estima-se que 51.726 homicídios ficaram sem registro entre 2012 e 2022, devido a mortes violentas por causa indeterminada (Atlas da Violência, 2023).
A violência no campo e nas periferias urbanas está ligada às desigualdades sociais e econômicas do país. A falta de acesso a serviços básicos, educação de qualidade e oportunidades de emprego marginaliza comunidades inteiras, tornando-as mais vulneráveis à violência. No campo, a disputa por terras e a falta de uma reforma agrária eficaz perpetuam conflitos que frequentemente resultam em violência contra trabalhadores rurais. Nas cidades, a ausência de políticas públicas eficazes para a juventude, aliada ao racismo estrutural, coloca os jovens periféricos em situação de risco constante.
Os recentes eventos no Assentamento Olga Benario e as contínuas mortes de jovens nas periferias de São Paulo são sintomas de problemas profundos que precisam de atenção urgente. É essencial que a sociedade civil e o poder público trabalhem juntos para reduzir as desigualdades, garantir direitos básicos e implementar políticas de segurança que protejam, em vez de prejudicar, as populações mais vulneráveis. Somente com um compromisso coletivo com a justiça social e a igualdade poderemos construir um país onde todas as pessoas tenham a oportunidade de viver com dignidade e segurança.
Como cidadãos, não podemos nos furtar à nossa responsabilidade neste processo. Quando escolhemos representantes que desprezam os direitos das populações mais vulneráveis, compactuamos, ainda que indiretamente, com políticas que perpetuam a violência e as desigualdades. Precisamos enxergar o peso de nossas escolhas e agir para cobrar dos governantes ações que coloquem a dignidade humana no centro das decisões. Deixar de participar das manifestações por garantia de direitos da classe trabalhadora, e escolher políticos que declaradamente estão agindo de maneira agressiva contra os movimentos sociais e a população periférica são decisões que afetam diretamente nossas vidas, nos colocando em risco de morte. A luta por uma sociedade justa começa em cada ato, cada voto e cada voz que se ergue em defesa dos direitos de todos.