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Entendendo um pouco sobre a história da Palestina…

Do Expresso Periférico

Por Marcha Mundial das Mulheres – Núcleo Sudeste São Paulo/SP

Você já ouviu falar na Palestina? Está seguindo notícias que chegam sobre a Palestina desde outubro de 2023? Há grandes chances de que sua resposta a essas perguntas seja positiva. Mas você sabe por que é importante entender o que realmente está acontecendo por lá? E o que o genocídio do povo palestino pelo estado de Israel tem a ver com a gente aqui no Brasil?

Muito se tem falado sobre a Palestina. Pouco na mídia convencional, é verdade, que quando o faz é de forma superficial e de maneira omissa, reforçando um discurso oficial (falso) de que Israel está apenas se defendendo, de que este conflito é um conflito entre forças iguais, de que é uma guerra religiosa, uma guerra contra o terrorismo, contra o antissemitismo. Contudo, essa não é, de fato, a realidade. O que está acontecendo lá é, na verdade, o extermínio de todo um povo. Dessa forma, este texto vem justamente na intenção de romper essa bolha informativa que só serve para “passar pano” para o assassinato sistemático do povo palestino.

Os palestinos sempre viveram nessa região, seus antepassados, suas raízes, sua história e cultura estão nesta terra. Há mais de 75 anos a Palestina vive ocupada e ameaçada pelo imperialismo, inicialmente pelos Ingleses e após por Israel e seu regime sionista e racista.

Em 1948, o governo recém-formado de Israel confiscou 78% das terras palestinas, e com isso expulsou mais da metade da sua população (cerca de 750 mil pessoas), de suas terras, aldeias e cidades. Israel ignorou a resolução 181 instituída em 1947, pela Assembleia Geral das Nações Unidas, que previa o fim do Mandato Colonial Britânico e a divisão da Palestina em um Estado Palestino e um Estado Judeu. Esse processo ficou conhecido como Nakba (Catástrofe).

Não contente e disposto a ocupar essa importante região, em 1967, Israel invadiu a Cisjordânia, Jerusalém Oriental e Gaza. Pelo menos outros 750 mil palestinos fugiram de suas terras nesse que pode ser considerado o segundo grande êxodo, mais tarde chamado de Naksa (Retrocesso).

Em outubro de 2023, Israel intensificou seus ataques a palestinos em Gaza, usando como justificativa o “suposto” ataque “terrorista” do Hamas, afirmando que seus ataques ao território palestino tinham como alvo apenas combatentes do Hamas e que tentava ao máximo minimizar as mortes de civis, mas, na verdade estava promovendo o início de um dos maiores genocídios da atualidade.

Por meio de bloqueios de estradas, controles e restrições de movimento, o governo de Israel dificulta e torna quase impossível a vida para os palestinos, que não conseguem educar crianças e jovens e empregar seus adultos. Na verdade, Israel realiza uma limpeza étnica na Cisjordânia, se utilizando de tiroteios, violência sexual – com a qual são as mulheres as que mais sofrem -, e destruição de casas, ataques a hospitais, escolas, mesquitas, e inclusive a um campo de refugiados em Rafah (no qual, de acordo com próprio Israel, os refugiados estariam seguros), tudo com o intuito de expulsar e aniquilar as pessoas de forma mais rápida. Não é um conflito de forças iguais, não é uma guerra: é extermínio com a finalidade de se ocupar a terra pertencente a outro povo. E isso fica claro quando vemos a quantidade de perdas de ambos os “lados”: dados mostram que, desde outubro de 2023, o número total de mortos ou desaparecidos em Gaza pelas mãos do exército israelense é estimado em ao menos 377 mil palestinos (é o que aponta o relatório divulgado pela Harvard Dataverse, assinado pelo pesquisador nascido em Israel Yaakov Garb); já entre as perdas israelenses, dados oficiais dão conta de cerca de 860 soldados (e não civis, importante destacar) foram mortos desde o início do conflito. Fica claro, então, que não se trata de um conflito em condições iguais, trata-se de um genocídio! O número de palestinos mortos é superior em mais de cinco vezes aos 61 mil apontados por dados oficiais.

Israel se utiliza da violência e da “instrumentalização do medo”, como armas de desocupação e perda de soberania. Quanto mais frágil a população, menor pode ser a resistência do povo palestino.

É importante dizer que esse conflito não é religioso ou cultural, ele é político, é uma estratégia colonial e neoliberal de ocupação de uma região rica em petróleo por onde passam dutos que escoam toda essa riqueza. Dominar essa região é imprescindível para Israel e para os Estados Unidos da América (EUA) – principal aliado de Israel – conseguirem manter sua hegemonia e poder no mundo. Para se ter uma ideia, é nessa região que está um dos 10 maiores produtores de petróleo do mundo, o Irã. Cerca de 20% a 30% de todo petróleo produzido do mundo é escoado entre os golfos de Omã e Pérsico, situados nessa região. O mundo está em perigo.

Com a entrada direta dos Estados Unidos no conflito, temos a certeza de que o mundo está em perigo.

E podemos nos perguntar: O que a Palestina tem a ver com a gente e por que defender o povo palestino e árabe?

Existem muitas pessoas que se perguntam o que a Palestina tem a ver com o Brasil, sobre por que devemos nos importar com o que está acontecendo tão longe da gente? Mas a verdade é que existem muitos pontos de relação entre o Brasil e a Palestina e, além disso, esse conflito, mesmo acontecendo longe de nós, tem consequências negativas para o mundo todo. E é por isso que existem muitos motivos para que nós, feministas, e todo o povo brasileiro se posicione a favor do povo palestino e árabe e contra as guerras:

  • porque nos solidarizamos com todos os povos, pessoas e comunidades sofrendo violência;
  • porque isso é uma história que se repete e não podemos ficar calados diante da guerra e do genocídio com um povo, pois a humanidade já viu isso acontecer com os judeus e é necessário se contrapor;
  • porque Israel promove na Palestina um processo de colonialismo/colonização, o mesmo processo que há alguns anos era feito com pólvora e caravelas, pelos povos europeus contra os povos indígenas brasileiros, contra os povos africanos e contra os povos asiáticos. Se condenamos esse processo no passado, o condenamos também no presente;
  • porque todo processo de colonização significa tomar a terra de um outro povo e para si em nome de “uma suposta democracia”, da civilização, ou de qualquer outro motivo, e não podemos permitir que isso siga acontecendo ao redor do mundo;
  • porque as armas que matam palestinos em Gaza matam também nas favelas do Brasil. Armas compradas de Israel estão sendo utilizadas nas comunidades de SP e nas favelas do Rio, assassinando nosso povo nas periferias. 
  • porque o Brasil critica a guerra, mas infelizmente continua vendendo aço e petróleo a Israel. Exemplos são a siderúrgica brasileira Villares Metais, do interior de São Paulo, que exportou pelo menos duas cargas de aço para duas fábricas israelenses de armas projetadas para uso militar e, segundo um estudo recente da Oil Watch International o Brasil é um dos cinco maiores fornecedores de óleo cru a Israel, juntamente com os Estados Unidos, Azerbaijão, Cazaquistão, Gabão e Rússia;
  • porque muitas empresas israelenses que sustentam todo o sistema de violência prisional e de vigilância operam em várias partes do mundo da mesma forma e a violência nas nossas periferias tem muito desta política de segurança pública, que trabalha para que a população empobrecida siga segregada, usando a violência para desencorajar a luta e a busca de direitos, assim como pratica o genocídio da população negra e indígena pelas mãos de milicianos e da própria polícia. Essas empresas de armas, vêm os conflitos e as guerras como lucro e poder;
  • porque é preciso que todos, mas principalmente os povos oprimidos, reconheçam essas violações de direitos e se aproximem, unindo forças e lutando contra essas empresas transnacionais de armas e da guerra, o que é também apoiar a causa palestina;
  • porque no Brasil e no mundo estamos sofrendo eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes (como as ondas de calor em SP ou as inundações no Rio Grande do Sul) e a guerra produz toneladas de emissões de poluentes através da queima de combustíveis nos aviões e tanques, e a destruição massiva do ambiente e da natureza através das bombas, tanques e balas;
  • porque Israel está matando civis, como a polícia faz aqui, incluindo crianças e jovens. Gaza tem uma população jovem, e mais de 50% das pessoas tem menos de 18 anos;
  • porque estima-se que dos 377 mil palestinos mortos ou desaparecidos pelos ataques israelenses, desde o início do conflito, cerca de metade, ou seja,189 mil são crianças (Harvard Dataverve). 
  • porque quase 70% dos mortos em Gaza são mulheres e crianças (fonte:ONU);
  • porque as mulheres palestinas estão parindo em condições desumanas, sem acesso a anestesia, higiene básica, água, medicamentos e sob escombros; 
  • porque há meses tem um bloqueio quase que total na entrada de ajuda humanitária, que não deixa entrar o básico como água, medicamentos, alimentos e tantos outros itens básicos que levariam algum alento de vida dentro do horror dos ataques diários.
  • porque a fome e as necessidades de um povo não podem ser usados como “arma” como tem sido feito por Israel. Todos os dias temos notícias de pessoas assassinadas na fila esperando por água e comida. A fome e a desnutrição matam muitas palestinas e palestinos em Gaza todos os dias.
  • porque toda a população de Gaza (mais que 1 milhão de pessoas) está sem moradia, quase todo o território foi destruído e está sob escombros. Essa população tem que mudar de lugar constantemente e, muitas vezes, andar dezenas de quilômetros em busca de um mínimo de segurança. Mas não há lugar seguro em Gaza, que segue sob ataque;
  • porque a guerra não pode ser usada como instrumento de medo e perda de soberania. Essa é uma estratégia da extrema direita utilizada em vários momentos da história e em vários lugares no mundo.

Assim, nós, da Marcha Mundial das Mulheres, como um movimento feminista popular internacionalista, anticapitalista, antirracista, e anticolonialista, nos indignamos e condenamos a ideologia sionista que, de forma racista e colonial, justifica todos os tipos de violações dos direitos humanos na Palestina. Defendemos que todos os povos têm direito à sua autodeterminação.

Por isso, defendemos uma Palestina Livre, do rio ao mar, e reivindicamos a solidariedade entre os povos e que os países no mundo se levantem e digam não ao genocídio na Palestina, não à guerra com o Irã e a região árabe, colocando duras sanções comerciais e políticas a Israel.

Que os povos do mundo ocupem as ruas contra a guerra e o genocídio do povo palestino.

Que o governo Lula rompa relações políticas e comerciais com Israel. Que deixe de vender petróleo e importar armas deste estado.

Palestina livre do rio ao mar!

Mulheres em luta contra as guerras e o genocídio!

Referências e mais informações

Imagem: Fórum Social Mundial Palestina Livre no ano de 2012 em Porto Alegre. Acervo Marcha Mundial das Mulheres Núcleo Sudeste.

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