O estrangeirismo incomoda muitas pessoas, pois há aquelas que odeiam palavras que se sobrepõem às brasileiras com intuito de dar mais engajamento, principalmente no meio corporativo como: branding, brainstorm, briefing, case, entre outras. Há ainda palavras estrangeiras que chegam já incorporadas de sentido, como: mouse, notebook, motoboy, delivery, outdoor, videogame, entre outras.
Tudo isto faz parte da variação linguística, que sofre influência de outras culturas na construção de sentido com novas palavras. Dentro da língua portuguesa estão várias palavras com influências francesas como: baguete, chantilly, cachecol, abajur, sutiã, dossiê, champanhe, crepe, garçom… Tem mais de uma centena, talvez até mais que na língua inglesa. tudo isto é valido e faz parte da evolução linguística dentro da cultura.
Vícios de Linguagem – Assim, o uso desnecessário ou excessivo de estrangeirismos se configura em um vício de linguagem, isto é claro. O uso excessivo destes termos sem nenhuma razão se configura realmente em um problema.
De acordo com Ieda Maria Alves, do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da USP, nós não importamos palavras, e sim fatos, acontecimentos que determinam a cultura de um país. Como consequência disso, trazemos a expressão em si também. Termos como: Black Friday, off, sale, hot dog, são palavras da língua inglesa que o Brasil tomou, ou seja, foram adotadas.
A pesquisadora relata ainda que nós emprestamos termos de origem anglicana, Portugal faz o mesmo com as palavras francesas. Assim, formam-se novos vocábulos que derivam da França, com a diferença de que são aportuguesados, e não simplesmente importados.
Halloween e o estrangeirismo cultural
O Halloween é comemorado no dia 31 de outubro. “Gostosuras ou travessuras?”, perguntam as crianças ao saírem fantasiadas pedindo doces de casa em casa. A festa, normalmente celebrada em países do mundo anglófono – falante da língua inglesa -, foi importada para a cultura brasileira. Como tratar o tema sem ofuscar a cultura brasileira?
Talvez por conta do esquecimento da data do Folclore Brasileiro que é comemorada no dia 22 de agosto, e não é tratada na escola atualmente. Lembro quando criança, a professora fazia grande festa nesta data na sala de aula. Eu adorava, pois é a data do meu aniversário. Hoje vejo professores criticando o Halloween e não fizeram nada no dia 22 de agosto.
Diante disto, o estrangeirismo principalmente quando aborda a cultura, sofre preconceito, principalmente de parte de educadores e que por ignorância de não saberem tratar o tema, proíbem a data alegando “alienação” de cultura estrangeira, e que não pertence à cultura brasileira, ou até mesmo por questões religiosas por não saberem tratar o assunto.
Dia do Saci – É a partir da perspectiva de que não há ligações entre a celebração do Halloween e a cultura brasileira que, em 2003, apresentou-se um projeto de lei para que, no dia 31 de outubro, fosse celebrado no Brasil o Dia do Saci, um dos mais conhecidos personagens do folclore nacional. Em 2004, a data foi oficializada no Estado de São Paulo e, em 2010, no País.
Por conta disto, concretiza-se então o “sincretismo cultural”, onde a cultura brasileira pode ser contextualizada dentro do halloween, como o “fato em si”, descolado da história do movimento que começou com os celtas, antes de ir para os Estados Unidos, mas sim, um evento com influência da cultura brasileira.
A data já é comemorada em todo o país, e reúne festas, eventos a fantasia e comemorações escolares. Assim, fica evidente como o contato com culturas globais influencia as novas gerações, mas sem apagar as tradições locais. Figuras do folclore, como o Saci, participam dessas comemorações e ampliam o repertório cultural dos brasileiros. Dessa forma, a coexistência do Halloween com as lendas brasileiras estimula a criatividade e a diversidade cultural. Aos poucos as pessoas vão lendo, se informando para saírem da bolha, e ressignificarem a data, distante da religião ou da ignorância.

















