O Rancor e ódio que nos pertencem

“Suportem-se uns aos outros e perdoem as queixas que tiverem uns contra os outros. Perdoem como o Senhor lhes perdoou. ”
Colossenses 3:13
“Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas.”
Machado de Assis
É triste ver as notícias de violência policial como as que estão sendo divulgadas pelos noticiários recentes. Em uma abordagem policial, um PM joga um sujeito da ponte; em um outro caso, seguranças do metrô espancam um homem até a morte porque não pagou a passagem de R$ 5; e em um outro caso, um policial à paisana atira 11 vezes contra um rapaz que furtou alguns produtos de comer, pelas imagens eram tipos salgadinhos parecidos com os da ‘Elma Chips’, que devem custar menos de R$ 20. Casos completamente absurdos que mostram todo o ódio e o rancor presentes na sociedade.
Netses tempos, este o ódio e rancor proliferam em todas as esferas, como na política, e em todos os relacionamentos sociais; dentro de nossa casa; na rua e no trabalho. É triste não podermos compartilhar nosso posicionamento político sem ser taxado de alguma coisa e ao mesmo tempo odiado por um grupo que pensa ao contrário; é ainda terrível você ser identificado como de uma religião e ser criticado e odiado por pessoas que têm uma fé diferente da sua. O ódio anda de mãos dadas com o rancor, que é, na realidade, uma emoção não resolvida, por conta de uma situação que causou o mal estar e que não enfrentamos, e ajuda alimentar o rancor e que vira em ódio.
O ódio e o rancor está inserido dentro de nossos corações de uma forma ou de outra. Mesmo que não tenhamos motivo algum, tudo se torna pretexto. Clarice Lispector em sua obra “O Mineirinho”, retrata bem esta vontade, quando vê um criminoso sendo morto pela polícia com 13 tiros, quando só uma bala já bastava, e os outros 12 aconteciam por razões de ódio e rancor e a última bala é minha, é nossa, pois nós matamos milhares de “mineirinhos” todos os dias.
Esta relação ódio-rancor-perdão é retratada de uma forma muito interessante no filme 12 Angry Men, do diretor Sidney Lumet (1958), aqui no Brasil saiu com o título “12 homens e uma sentença”. O filme é uma lição jurídica, mais vai muito além, pois mostra todos os nossos defeitos como seres humanos e desmascara os pecados capitais de cada membro do júri (Júri Popular), revela-se que o povo tem os mesmos defeitos do réu. Ou seja, todos nós somos culpados dos crimes sociais.
Como diz a banda rap nacional, GOG “A reconstituição do crime deve ser feita anos antes”. O ódio e o rancor estão enraizados em nossas peles, e se nada fizermos isto se prolifera, pois está começando lá na base, na escola. Testemunhamos um Estado ausente que sucateia a educação em todo país e as crianças acabam por se transformar futuramente em pessoas rancorosas. Acredito é necessário deletar o que ficou para trás e construir o novo, pois de acordo com Honoré de Balzac, “O ódio tem melhor memória do que o amor”.